Como seria uma casa sem plástico?
Antes de tentar imaginar uma morada livre do plástico, é importante entender como ele atua na edificação dos lares e onde está, mesmo quando não o vemos. A construção civil é um dos setores que mais usa o plástico no mundo, pois é um material muito versátil, com diversos tipos e características que facilitam a produção. Pode ser flexível e duro, leve e fácil de transportar, ter resistência mecânica e térmica contra umidade e corrosão. “O material pode ser usado nas instalações hidráulicas e elétricas, revestimentos de pisos, telhas, forros, caixas-d’água, rodapés, composição de tintas e vernizes, fachadas e esquadrias – portas e janelas”, aponta Darlan Firmato, arquiteto e gestor de sustentabilidade da mostra de decoração CASACOR.
Nas construções, o principal material que leva o composto é o PVC. Por conta de sua durabilidade e resistência, ao contrário do que se pensa, o material pode ser considerado um aliado do meio ambiente. “Ele é, sem dúvida, o tipo de plástico mais usado na construção civil, apresentando uma série de vantagens quando comparado com outros materiais e também em relação ao custo-benefício. Como é resistente, principalmente à corrosão e à mecânica, ele acaba ganhando nessa questão da sustentabilidade, por ter longevidade maior”, pontua Iza Valadão, engenheira civil com Ph.D. em Materiais e Sustentabilidade e professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O Instituto Brasileiro do PVC afirma que o ciclo de vida desses produtos pode atingir 60 anos e alguns itens podem ainda chegar até os 100 anos. Para ser reciclado, o material sintético sofre com a degradação, perda de características e tem limites de vezes em que pode passar por esse processo. Dependendo da composição, a reciclagem do PVC pode ser feita em torno de quatro a seis vezes, antes do seu descarte final. “Adotar a economia circular como bandeira pode ser uma solução, usando o conceito cradle to cradle, no qual os produtos são pensados desde o design até seu descarte final”, sugere Darlan.
Iza também pontua que, hoje, o setor civil vem apostando em novas tecnologias para aumentar o tempo de vida dos materiais de construção e facilitar a manutenção, já que o problema do plástico está relacionado ao seu descarte e ao aumento desenfreado de produção, e não no seu uso equilibrado e consciente.
Além dos itens construtivos, diversos objetos plásticos fazem parte da nossa rotina. Laminados, puxadores, luminárias, molduras, utensílios domésticos, acessórios de decoração e cadeiras. Esta última peça, inclusive, foi a grande responsável pela inserção do material sintético na decoração. “Desde 1948, as cadeiras começaram a ser fabricadas em série, influenciadas por Charles e Ray Eames, que desenvolveram os primeiros modelos para o Concurso de Design de Móveis de Baixo Custo, do Museu de Arte Moderna de Nova York”, relembra Iza.
Dentro do setor de mobiliário: as peças são descartadas com menos tempo de vida, o que agrava a poluição ambiental. É claro que, ao dar a manutenção necessária ao móvel e ressignificar peças, há um combate ao desperdício e ao descarte acelerado.
O ideal da casa sem plástico
Sabe-se que, conceitualmente, é possível imaginar uma moradia livre de plástico. Porém, na prática, isso muda. Motivo porque, na construção de um empreendimento, o plástico, seus derivados e compostos são responsáveis por construções – ironicamente – sustentáveis, pois o problema do material não está em sua empregabilidade construtiva, e sim em quando é criado para ser desperdiçado de forma breve.
Tratando-se de material construtivo, o sintético emite muito menos gás carbônico em sua produção do que o metal, por exemplo. Iza pontua que seria muito difícil pensar em uma construção sem os canos de PVC, responsáveis pelo encanamento de água e esgoto, e falando de uma casa com energia elétrica, seria impossível não ter plástico, pois a fiação é envolvida justamente pelo material, que funciona como isolante. Assim como também não é possível substituir a caixa-d’água, que hoje só é comercializada de PVC com fibra de vidro.
“Em pleno ano de 2021 é difícil assumir que uma casa possa ser 100% sem plástico, mas precisamos lembrar que o material só está na rotina doméstica há cerca de 50 anos. Ou seja, já tivemos casas sem plástico. Não incentivamos ninguém a sair abrindo os armários da cozinha e jogar todos os potes de plástico fora, mas sim a entender que, ao adquirir um novo item para casa, é essencial estar atento ao material do qual ele é constituído e qual o impacto que o produto e sua cadeia produtiva geram”, diz Lori Vargas, cofundadora da Mapeei, primeiro espaço zero desperdício e zero plástico do país.
Porém, tanto a engenheira Iza quanto o arquiteto Darlan sugerem as bioconstruções como alternativa às tradicionais, mas de uma forma limitada, e não aplicada às grandes metrópoles. “Hoje, 70 anos depois da explosão do uso do plástico [na construção civil], diversas técnicas de bioconstrução são experimentadas, mas eu diria que ainda é um grande desafio, principalmente se pensarmos em escala global”, acrescenta o arquiteto.
“As bioconstruções são feitas com terra crua do próprio lugar e usam bambu, mas isso só dá certo em uma comunidade local. Há a possibilidade de usar vidro também, mas tudo tem de ser feito localmente para que se configure como uma casa sustentável”, completa Iza.
Outros itens e objetos do lar podem ser substituídos com mais facilidade, mas isso não baniria o plástico da moradia. Se a ideia é diminuir, o ideal é “ter muitos materiais reciclados e de upcycling, como madeira de demolição e ferros usados”, pontua Marcus Nakagawa, professor da ESPM e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS). “Seria decorado com peças reutilizadas, com origem comprovada e correta e todos os selos de maior referência, como o FSC e os veganos e orgânicos. Para ter uma casa sem plástico, não precisaríamos extrair nada da natureza, aproveitaria tudo o que já foi um dia de uso de alguém ou de alguma estrutura: uma ressurreição de materiais e objetos de fontes renováveis”, finaliza.
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