O resgate da verdade factual é fundamental para retomada da economia brasileira, diz Renato Meirelles
“Nenhuma grande mudança na história dos negócios se deu em momento de bonança. Elas se deram, em geral, em momentos de crise, que vale para todo mundo”, diz o o fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela, Renato Meirelles. Ele participou da live da IstoÉ Dinheiro nesta segunda-feira (18). Especialista em pesquisas e comunicólogo, Meirelles falou sobre o comportamento dos brasileiros durante a crise do coronavírus, que ceifou mais de 209 mil pessoas no Brasil, até o momento, assolou o mundo dos negócios e empregos e mudou o comportamento das pessoas.
Meirelles na conversa traçou cenários ora otimistas, no campo dos negócios, ora provocadores, na área política, como a possibilidade real de reeleição de Jair Bolsonaro, em 2022. “Sem um projeto consolidado de oposição, que consiga sair dos polos de radicalização ao centro, o presidente Bolsonaro aparece de fato como o mais provável no cenário atual. Mesmo em um cenário que ele não tem a maioria absoluta dos votos”, avaliou.
Observador atento do cenário econômico, político e comportamental da sociedade brasileira, Meirelles acredita que o País só conseguiu atravessar os quase dez meses da crise sanitária da covid-19 sem uma ruptura social por conta do auxílio emergencial, pago pelo governo federal, e pela solidariedade/trabalho dos movimentos sociais. “O Brasil não quebrou e não teve uma convulsão social por causa do trabalho das entidades do Terceiro Setor”, diz. “O vírus escancarou a desigualdade em vários níveis.”
Para Meirelles, o abismo social ainda será mais trágico no futuro em função da falta de oportunidades das crianças das favelas em estudar durante o isolamento social. “Algo como quatro milhões de crianças das favelas tiveram que parar de estudar, porque o tal do homeschooling simplesmente não é acessível a quem não tem um computador dentro de casa. É impossível o Brasil crescer de forma sustentável sem educação. Isso mostra a necessidade, cada vez maior, da internet ser considerada como direito fundamental na Constituição. Como é o acesso à educação, à moradia, à saúde. São direitos fundamentais do cidadão brasileiro”, avaliou.
Na live, o presidente do Locomotiva abordou vários temas do comportamento social e econômico dos brasileiros na pré e pós-pandemia. No entanto, em especial, Meirelles chamou atenção do público a um ponto perturbador que é o compromisso das pessoas com a verdade dos fatos. Para ele, numa sociedade em que 11 milhões de pessoas acreditam que a Terra é plana, não dá mais para tergiversar, usar de evasivas, subterfúgios ou procurar rodeios para se debater fatos reais ou científicos. “O que vemos é o abandono pelo apreço da verdade. O Brasil não vai voltar a crescer sem uma campanha em defesa da verdade dos fatos, que é fundamental para retomada da economia e criar ambientes seguros para o investimento.”
Para Renato Meirelles, existe uma dificuldade tremenda de se usar a palavra mentira nos debates políticos e econômicos. Segundo ele, essa deve ser uma mudança de comportamento das pessoas daqui pra frente. Ou seja, toda e qualquer narrativa que vise driblar a verdade factual deve ser rebatida, com números e provas de forma definitiva. “Estamos diante da possibilidade e oportunidade de puxar o freio de arrumação civilizatório no nosso país”, disse.
No bate-papo, ele avaliou que a insatisfação da classe média com o rumo do país pode ajudar a contrapor as teses negacionistas. Mas que o pós-vacina pode ser o momento em que os empresários deem a volta por cima nos negócios. “Os empresários que conseguirem colocar o consumidor no centro do seu processo de decisão e radicalizar o processo de inovação vão vencer”, concluiu.
fonte: IstoÉ Dinheiro
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