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Recuperação lenta ou em “V”? As previsões para a economia no 2º semestre para o Brasil e o mundo

Imagem: photocreo, de envatoelements Imagem: photocreo, de envatoelements

No final do ano passado, quando o coronavírus ainda parecia ser apenas uma ameaça distante e com pouca repercussão no mercado, os investidores em Brasil estavam otimistas com a economia do país e com as projeções para a bolsa. Contudo, apontavam, o maior risco poderia vir do exterior (veja mais clicando aqui).

Eis que, ainda no primeiro trimestre, a pandemia veio, derrubando as projeções para o PIB mundial – incluindo para a economia do Brasil – e para a bolsa, confirmando a tese do risco externo, ainda que não diretamente pelas razões apontadas até então. Vale destacar, contudo, que os fatores de maior cautela apontados por analistas e economistas ganharam força por conta da Covid-19, como o agravamento nas tensões entre Estados Unidos e China e a tendência à “desglobalização”.

Porém, após a grande aversão ao risco com a pandemia no primeiro semestre, os economistas se debruçam nos últimos indicadores econômicos, alguns indicando recuperação da atividade, para entender quando e como se dará a recuperação da economia mundial.

Eles apontam que, assim como a pandemia não chegou ao mesmo tempo em todos os lugares, a reação a ela também foi diversa, o que se traduziu em diferentes medidas tomadas para enfrentar os efeitos do coronavírus. Neste sentido, enquanto algumas economias vão apresentar uma recuperação mais robusta no segundo semestre, outras podem sofrer mais para se recuperar, como é o caso da região da América Latina, que se tornou o epicentro da doença.

O Brasil, em segundo lugar no número de casos e de mortes, é um dos países com potencial de ser mais impactado pela pandemia em 2020 também em termos econômicos – apesar de alguns dados recentes mostrarem que o país pode já ter atingido o fundo do poço em abril, indicando recuperação mais à frente também com a reabertura gradual das atividades. Porém, a incerteza sobre uma segunda onda e sobre os efeitos de uma abertura que pode ser considerada prematura seguem sendo monitoradas de perto pelo mercado.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), em revisão de suas estimativas anunciada no fim de junho, prevê uma contração do PIB global de 4,9% neste ano, avaliando que, entre as grandes economias do planeta, apenas a China verá seu PIB subir, em 1%. Para os Estados Unidos, a contração esperada é de 8%.

“A pandemia da Covid-19 teve um impacto mais negativo do que o antecipado na atividade, durante a primeira metade de 2020. Projetamos que a recuperação seja mais gradual do que o previsto anteriormente”, destacou o documento do fundo.

Por outro lado, os economistas do Morgan Stanley mostram confiança de que, ainda que esta seja uma recessão profunda, ela será curta, o que levará a uma recuperação em formato de “V”. Isso implica em um regresso à normalidade relativamente rápido, depois de um acelerado colapso, em meio às recentes surpresas positivas nos dados do crescimento e na adoção de políticas públicas para conter o impacto da pandemia.

De acordo com o Morgan, a recessão mundial será curta, sobretudo por três razões: não se trata de um choque endógeno desencadeado por grandes desequilíbrios; as pressões de desalavancagem serão mais moderadas; e o apoio de políticas monetária e orçamentária foram e continuarão sendo decisivos para impulsionar a recuperação. A expectativa é de que o PIB global tenha se contraído em 8,6% no segundo trimestre de 2020 e que haverá um crescimento de 3% no primeiro trimestre de 2021.

A China está no caminho de retornar ao crescimento positivo em junho, avaliam, os mercados desenvolvidos devem sair da recessão no terceiro trimestre, enquanto os emergentes (excluindo a China) devem registrar um crescimento positivo no segundo trimestre de 2021.

Para a equipe de análise econômica da instituição, formada por Chetan Ahya, Derrick Y Kam, Nora Wassermann e Frank Zhao, contudo, a forma como a doença irá se espalhar e o desenvolvimento da vacina são cruciais para definir um cenário mais positivo ou negativo para a trajetória da economia mundial.

No cenário-base, os analistas assumem que uma segunda onda de infecções ocorrerá no último quadrimestre do ano (entre final setembro e dezembro), mas que será gerenciável e resultará em bloqueios seletivos. O analista de biotecnologia do Morgan nos EUA, Matthew Harrison, tem a expectativa de que uma vacina esteja amplamente disponível em meados de 2021.

Por outro lado, em um cenário mais pessimista (bearish), as rigorosas medidas de bloqueio,  implementadas no início deste ano, podem ser instituídas novamente, resultando em um duplo mergulho.

“Além disso, estamos observando os riscos relacionados ao ressurgimento da tensão comercial e a incerteza com as eleições nos EUA. Se as tarifas subirem novamente, isso pode restringir a recuperação. A incerteza política às vésperas das eleições americanas em novembro também pode pesar negativamente sobre o crescimento”, afirmam os economistas.

No cenário base do Morgan, o PIB global terá uma contração de 3,8% em 2020 enquanto que, no otimista, o PIB cairia apenas 1,4%. No cenário pessimista, de maiores restrições, a economia registraria contração de 7%.

Para a maior economia do globo, os EUA, a projeção do Morgan é de queda de 5,8% (no cenário otimista, a expectativa é de contração de 2,1% e, no pessimista, uma baixa de 10,2%).

Enquanto isso, o Credit Suisse espera, no cenário base, uma contração de 5,6% da economia dos EUA e recuperação de 3,5% em 2021, apontando que a atividade está se recuperando após paralisações em todo o país em março e abril. No entanto, o surgimento de novos casos de coronavírus e o vencimento de medidas de estímulo no âmbito fiscal são um risco de curto prazo, enquanto as falências de grande número de negócios e o desemprego também pode causar danos a longo prazo. Os analistas lembram que as contaminações por coronavírus nos estados que reabriram cedo aumentaram bastante nas últimas semanas, adicionando muita incerteza ao caminho da recuperação. Com isso, a equipe de análise espera que o crescimento e o mercado de trabalho seja afetado até 2021.

No continente europeu, por sua vez, os economistas apontam que as medidas de restrição causaram um forte impacto na atividade econômica entre março e abril, mas elas foram bem-sucedidas, uma vez que as taxas diárias de contaminação caíram significativamente e agora são baixas em todo o bloco de países que forma a zona do euro, promovendo uma abertura na região. Desta forma, a expectativa é de uma recuperação em 18 meses, com o PIB retornando aos níveis do quarto trimestre de 2019 no final do próximo ano.

Enquanto o principal risco é uma segunda onda de contaminações, provocando novos bloqueios, outro risco é o dano causado pela recente recessão no emprego e na falência de empresas. Porém, avaliam os economistas do banco suíço, as  medidas de política econômica destinadas a atenuar esse movimento tem sido bastante bem-sucedidos, até agora: as empresas têm acesso à liquidez no sistema bancário e a foi possível impedir um aumento destrutivo do desemprego. A previsão é de que o PIB da zona do euro caia 8,2% este ano e suba 8,1% no próximo.

Conforme avaliam os economistas, inesperadamente, a crise foi um catalisador de importantes mudanças na política econômica da União Europeia, destacando o fundo de resgate, o afrouxamento da política fiscal (especialmente na Alemanha, que deve significar a um aumento dos gastos em infraestrutura no longo prazo), levando a uma política econômica mais equilibrada.

“Embora a inflação deva cair nos próximos meses, a rápida expansão do setor público e da atuação do BCE está associado ao rápido crescimento da oferta monetária. Isso pode levar a uma aceleração da inflação no médio a longo prazo”, apontam os economistas.

América Latina e Brasil: recuperação mais lenta
Mesmo em um contexto bastante difícil com o alastramento do coronavírus por todo o Brasil, em termos econômicos o pior pode ter ficado para trás, apontam os economistas. Contudo, vale ressaltar, o prolongamento da pandemia no país (risco que pode aumentar com a abertura prematura das atividades em algumas regiões) e o fator fiscal são pontos monitorados de perto para saber a que ritmo se dará a recuperação, que deve ser mais lenta em relação aos países mais desenvolvidos. Como maior economia da América Latina, o ritmo de crescimento do Brasil é importante também para ditar a recuperação em toda a região.

Na avaliação do FMI, a América Latina deve ter sua pior recessão da história, com contração estimada de 9,4% este ano. A estimativa é que o PIB do Brasil caia 9,1% em 2020, em um quadro de “alta incerteza”, com crescimento de 3,6% em 2021.

De acordo com as perspectivas do fundo, a aceleração da pandemia na região indica que medidas de distanciamento social terão de ser mantidas por mais tempo, ajudando a deteriorar a atividade econômica. Desta forma, a expectativa é de um segundo semestre também com economia enfraquecida. Com isso, o PIB da América Latina pode ter recuperação mais lenta que outras regiões do planeta enquanto que, em 2021, a recuperação será “suave”, com avanço previsto de 3,7% no PIB da região.

Em relatório recente, o Bank of America reforça que dados de alta frequência sugerem que o impacto da pandemia sobre a atividade doméstica do Brasil atingiu o nível mais agudo há mais de dois meses e que está havendo recuperando desde então.

Indicadores como consumo de energia e vendas de varejo mostram melhora à medida que o número de casos da Covid-19 se estabilizam nas principais cidades e a economia começa a reabrir gradualmente.

Vale ressaltar ainda que, no último dia 2, foi divulgado ainda uma alta de 7% da produção industrial em maio na comparação com abril, interrompendo uma sequência de duas quedas mensais. “De fato, a economia tem começado a se beneficiar com um menor bloqueio das atividades desde maio e uma recuperação gradual deve continuar na maioria dos setores”, avalia a equipe de análise do Bradesco BBI.

Mesmo assim, é provável que haja algum descompasso entre demanda e oferta nesse período volátil, o que poderia levar a um ritmo de recuperação mais gradual, apontam os economistas do BBI, que seguem com uma estimativa para o PIB brasileiro de queda de 7% em 2020. Já o BofA, apesar de ver uma possibilidade de revisão otimista para a atividade brasileira, segue com projeção de baixa de 7,7%.

O Credit Suisse, por sua vez, avalia que, considerando os substanciais pacotes fiscais e monetários para combater os efeitos do coronavírus, a retomada do crescimento econômico no segundo semestre é o
cenário mais provável, ainda mais levando em conta a forte contração de 10% do PIB no segundo trimestre frente os primeiros três meses do ano. Os economistas mantém previsão de queda de 6,5% da atividade em 2020 e de alta de 4,6% em 2021.

Os principais riscos para a recuperação econômica no país residem na adoção de medidas mais restritivas de quarentena devido a uma eventual aceleração da curva de transmissão do vírus, assim como as decisões de política fiscal para para lidar com o endividamento do setor público nos próximos anos.

Vale ressaltar que, na última quinta-feira, a equipe econômica revisou suas perspectivas fiscais para 2020, prevendo uma piora significativa e generalizada nas contas em meio ao coronavírus, e destacou que um grande esforço  será necessário para que a dívida pública volte ao nível de 2019. O ministério previu que o déficit primário do setor público consolidado será de R$ 828,6 bilhões em 2020, correspondente a 12% do PIB, numa piora frente ao patamar de 9,9% calculado antes.

Para o governo central – Tesouro, Banco Central e Previdência – a expectativa é de um rombo primário de R$ 795,6 bilhões, ou 11,5% do PIB. A equipe econômica agora vê a dívida bruta chegando a 98,2% do PIB ao fim deste ano e a dívida líquida a 69,9% do PIB. A Secretaria Especial da Fazenda considerou agora uma retração de 6,5% para o PIB, retirada da pesquisa Focus do Banco Central com economistas. De acordo com a pasta, uma explosão nos gastos emergenciais e uma queda nas receitas com impostos exigirão reformas estruturais para colocar as finanças públicas de volta aos trilhos.

Conforme aponta o Itaú Unibanco, que manteve a sua previsão de queda do PIB de 4,5% em 2020, o impacto fiscal das medidas de combate aos efeitos do coronavírus deve alcançar 7,8% do PIB (R$ 565 bilhões).

O banco passou a ver déficit primário em 2020 de 11,0% do PIB (ou R$ 800 bilhões), ante projeção feita anteriormente de 10,2% (R$ 740 bilhões), em meio ao cenário de extensão do auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais por mais dois meses. Contudo, ainda não está claro o calendário dos desembolsos. Para o Itaú, a dívida bruta deve chegar a 92% do PIB em 2020 e 90% do PIB em 2021, ante 76% do PIB em 2019.

O Itaú ainda piorou sua projeção para a taxa de desemprego ao fim de 2020 de 14% para 16,6% e, ao fim de 2021, de 13,7% para 16,2%. Segundo a instituição, com o desemprego mais elevado, as receitas do governo também terão um crescimento menor do que esperado anteriormente.

Na avaliação da instituição, em caso de piora fiscal adicional, a retomada pode ficar mais prejudicada, e a manutenção da taxa de juros próxima às mínimas históricas poderia ser inviabilizada. O banco mantém sua projeção para a taxa Selic em 2,25% no fim de 2020 e em 3% no do próximo ano.

Na avaliação do Credit Suisse, a profunda recessão causada pela pandemia deverá conduzir a uma deterioração substancial das condições do mercado de trabalho em 2020. “Esperamos que a taxa de desemprego ultrapasse 15% nos próximos trimestres devido à destruição de empregos nos mercados formal e informal”, apontam.

De acordo com os economistas, o aumento menos substancial do desemprego no início da crise foi por conta do menor número de trabalhadores em busca de emprego nesse período de pandemia, que levou a uma porcentagem maior da população para fora do mercado de trabalho. “A retomada das pesquisas de emprego, em um cenário em que o nível de atividade ainda estará abaixo do nível pré-crise, deve levar a um maior aumento da taxa de desemprego”, afirmam.

Por outro lado, a combinação de forte contração na demanda doméstica e a desvalorização do real contribuirá para uma redução significativa do déficit em conta corrente como porcentagem do PIB, de 2,8% em 2019 para 1,1% em 2020 e 0,4% em 2021, avaliam, sugerindo que o risco de uma crise da balança de pagamentos é baixa, avaliam.

De olho nas curvas de contaminação e nas reformas
No curto prazo, o principal alerta segue sendo com as curvas de contaminação. O temor é de que relaxar a quarentena nesta altura em que o Brasil ainda não teve uma queda na curva de mortes diárias, como tem ocorrido em vários estados, pode elevar as contaminações e prolongar a crise.

A deterioração econômica, o relaxamento dos bloqueios em economia de países desenvolvidos e a contenção do risco de colapso do sistema de saúde nas regiões mais populosas do Brasil provavelmente explicam essa flexibilização, destacam os economistas do Credit Suisse. “O processo de retomar as atividades sem sinal claro de contenção da disseminação do vírus pode prolongar a crise”, afirmam.

O Itaú também avalia que a propagação do coronavírus pode inviabilizar a continuidade de uma abertura gradual e ordenada das atividades econômicas ao longo do terceiro trimestre. Os economistas do banco ressaltam ainda que, enquanto houve manutenção dos números de mortes diárias, mudou a composição das contaminações entre as regiões. As mais afetadas no início da pandemia, como Norte, Nordeste e Sudeste, tiveram moderação, enquanto as regiões Sul e Centro-Oeste apresentam alta de casos e de ocupação hospitalar.

“Acreditamos que a queda dos óbitos em escala nacional deve começar em julho, permitindo a continuação da abertura gradual da economia. Para isso, será importante monitorar a evolução das taxas de contágio”, avaliam os economistas. Porém, eles apontam que a queda do número de casos e óbitos deve ser lenta, enquanto a reabertura deverá ser gradual e desigual entre os estados.

Mais no longo prazo, o Credit Suisse aponta que o crescimento potencial tenderá a permanecer baixo sem o avanço das reformas estruturais. O impacto da crise da saúde na economia e contas públicas, combinadas com o cenário político mais instável, poderia levar a uma mudança na agenda de discussão de reformas estruturais nos próximos trimestres.

A agenda fiscal provavelmente será priorizada após a pandemia, avaliam os economistas do Credit, com uma reforma tributária focada na simplificação do sistema tributário, aumento de impostos e redução de subsídios.

Enquanto isso, a agenda da reformas microeconômicas que foram discutidas no período pré-crise – e têm um alto impacto no crescimento potencial (por exemplo, como abertura econômica e privatizações) – poderia levar mais tempo para ser aprovado. “Assim, esperamos o crescimento em potencial de economia permanecendo perto de 1,5% no período pós-crise na ausência de um avanço robusto nas reformas estruturais”, avaliam.

fonte: InfoMoney, escrita por Lara Rizério

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